quarta-feira, 15 de junho de 2016

Memórias incentivam um grito de cantadores em Porto Velho

Sucessão musical é responsável pela identidade cultural da cidade.
Antigo e o moderno são registros da história de um povo através da música.

Costumes, pessoas e lugares fazem parte de composições musicais que registram a história de Porto Velho.
(Foto: Jenifer Zambiazzi/Divulgação)

A história da música de Porto Velho começou em meados dos anos 60, mas a formação do cenário cultural conhecido nos dias de hoje se deu com o “Grito de Cantadores”, festival de música projetado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) em 1989, que despertou artistas a expressar composições e contar a vida de uma cidade através da música.

Letras que contam a história de um povo, os costumes de uma cidade, os personagens da cultura rica que continua a se movimentar e desenvolver no cenário musical porto-velhense. As composições dos “mastodontes” Bado, Binho, Augusto Silveira, Laio, Nega, dentre outros que iniciaram essa história de identidade única seguem nas revelações musicais atuais.

Nas anos 70 a influência musical vinha dos americanos, com o jazz. Mas, de acordo com o historiador Anísio Gorayeb, os intérpretes iniciaram as carreiras, muitos como artistas ocultos que foram se mostrando com as oportunidades de apresentações em rádios e festivais de música, e outros já dedicados e decididos a fazer história, com canções de suas autorias e participações marcantes em diversos projetos culturais de Porto Velho.

Augusto Silveira (Foto: Arquivo Pessoal)
O projeto que deu início à música conhecida como local, de valor popular brasileiro, chamava-se “Grito de Cantadores”, promovido pelo Sesc em 1978. Jovens músicos profissionais e amantes da música participaram e permaneceram fielmente até 1992, quando o movimento de cantadores se transforma no projeto musical chamado “Porto das Esperanças”, que abre espaço para o lançamento desses artistas ao público porto-velhense no projeto cultural e educacional Circuito Musical nas escolas, dando origem ao CD gravado em conjunto “Amazônia em Canto”.

O desenvolvimento dos artistas em projetos culturais abriu portas para os trabalhos coletivos e individuais. Segundo o músico Augusto Silveira, também biólogo graduado, a partir de 1998, financiamentos proporcionaram as produções em trabalhos solos de muitos artistas, possibilitando assim mais registros da rica cultura musical popular de Porto Velho.
Em 1977, Augusto Silveira chegou a Porto Velho, quando decidiu se especializar em citopalogia. Um ano depois conheceu a esposa e com o trabalho especializado em ecologia e conservação da biodiversidade criou raízes em Porto Velho.

Augusto relacionou a música com a biologia e explicou como enxerga uma característica dos trabalhos culturais desenvolvidos na cidade. “A ecologia me ensinou uma coisa, o fenômeno Sucessão Ecológica, as gerações, que mantêm um bosque tropical como ele é, um cerrado, um rio, em função da sucessão das espécies que compõem aquele cenário. Em Porto Velho, o que acontece hoje, com a qualidade desses grupos, de garotos novos, é a sucessão, árvores novas que desenvolvem à sombra de velhas arvores”.

O artista também falou que nesse processo sucessório, os intérpretes, assim como os compositores, são responsáveis em propagar a cultura local. “Você ser cantado por alguém é uma honra”, falou Silveira. 
Bado, um dos artistas que representa a cidade (Foto: Arquivo Pessoal)

Bado, instrumentista e compositor rondoniense, conhecido em todo o país, é responsável por um grande acervo musical, também desenvolveu trabalhos a partir de criações para teatros e documentários. Graduado em música, seguiu a carreira nos palcos e nas salas de aula, quando foi aprovado em um concurso público e passou a ensinar na Escola de Música Jorge Andrade. Participante ativo dos movimentos culturais promovidos pelo Sesc, o artista desenvolveu seu trabalho, focado na valorização da música que conta a história da terra.
As referências musicais para muitos artistas também vêm das escolas de samba, composições locais que desencadeou em uma série de criações em diversas vertentes e traz os programas de auditórios, que incentivam e estimulam os novos artistas na década de 80. “Em uma abordagem geral, eu ouvia aquela galera cantando nos programas de auditórios e desencadeei nessa coisa de criar. Comecei a fazer música para teatro com links de experiência vendo os sambistas, compositores locais”.

O Grito de Cantadores permitiu o início da consolidação da identidade musical local. Assim como outros artistas Bado e Augusto participam ativamente de parcerias com a jovem guarda porto-velhense, sempre preocupados em desenvolver mais história e registrar a memória de um povo. “Comecei com o Grito de Cantadores, em 1983 e não parei mais. Apostando só na terra, correndo atrás da minha história como compositor, tocava na noite e investia nos shows com músicas próprias”.

Uma música rebelde, que se expressa com ousadia, permanece. A sua continuidade se dá no surgimento de artistas e parcerias entre os modernos e os antigos. Dentro dessa contextualidade a música de Porto Velho é muito rica, extremamente criativa, onde as pessoas mantém um processo contínuo de criação.

Pauta e texto: Gaia Quiquiô
Edição: Marcela Ximenes


3 comentários:

  1. olá, sou estudante de graduação em letras e por curiosidade meu trabalho de conclusão será em cima do cd. Amazônia em canto, se alguem poder me ajudar com arquivos do projeto, que era voltado para as escolas serei grato.

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    1. Olá, Bosco. Favor informar seu e-mail para que possamos entrar em contato.
      Marcela Ximenes

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    2. segue o e-mail: bosco.metropolitana@gmail.com.
      desde já agradeço!

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