domingo, 19 de junho de 2016

Professores e alunos se dedicam a projetos ambientais de escola pública, em Porto Velho

O projeto em que os próprios alunos são os protagonistas dos programas. Professora diz que se saísse da escola o projeto acabava.

Alunos e voluntários da Murilo Braga trabalham no projeto Com-Vida (Foto: Jackson Vicente/Focas do Madeira)

A Escola Estadual Murilo Braga, em Porto Velho, há sete anos realiza trabalhos sobre sustentabilidade dentro e fora das salas de aula. Esses projetos desenvolvem ações de Educação Ambiental (EA). Um serviço em que os próprios alunos são os protagonistas dos programas aplicados desde 2009, quando foi criada a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-Vida) pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).

“Esse projeto fez com que os alunos através da percepção ambiental, visualizem os problemas socioambientais na escola e na comunidade, comenta a professora Carmem Andrade sobre a chegada da Com-Vida na escola.

Com o desenvolvimento de um espaço para estruturar uma horta, estudantes mobilizaram-se na criação de grama, produção de adubo, plantas medicinais e legumes na parte externa do prédio da instituição. Um cercado para o jardim foi também aproveitado, e pneus e garrafas pets reutilizados para decorar o ambiente.

Esse foi o primeiro passo para se alcançar um projeto escolar mais duradouro, especialmente, o que pudesse ser reconhecido no estado de Rondônia e até no país.

Água de ar-condicionado é aproveitada para regar as plantas.
(Foto: Jackson Vicente/Focas do Madeira)
No final do ano de 2015, a escola, por meio da Com-Vida, selecionou alguns alunos para o “Desafio Criativo”, concurso de escolas públicas do Brasil que têm a Com-Vida atuante. Os estudantes fizeram uma obra de caráter sustentável reutilizando várias garrafas pets como tubos de água.

A água que pingava do ar-condicionado é captada por uma mangueira que esvazia o líquido nos tubos de pets. Ela serve para aguar flores e plantas, como o ‘capim santo’, que são plantados no jardim.

Essa obra foi premiada pela Instituto Alana, organizadora do concurso, vários estudantes viajaram a São Paulo concorrendo com mais de 400 trabalhos de outras comissões, e assim, ficaram entre os cinco finalistas à medida de serem premiados em primeiro lugar no país, com o projeto: “Ar refrigerado e água uma combinação que dá Vida”.

“Comecei a perceber que esta era a proposta que eu tanto procurava para desenvolver as ações ambientais, com o envolvimento de todos. E hoje as nossas ações vão além dos muros da escola”, enfatiza Carmem sobre a atividade prática que levou os jovens da Murilo Braga para fora do estado.


Distribuição de Mudas

Como continuidade do programa de incentivo à Educação Ambiental, os alunos da Com-Vida reuniram o máximo de mudas de plantas nativas da região amazônica. No mês de maio, fizeram um mutirão de entrega em frente da escola.

Cerca de 60 mudas de plantas como ipê, cacau, manga, boldo, boldo do chile, açaí, goiaba e acerola foram distribuídas de graça. O intuito da campanha desenvolvida pelos estudantes, intitulada de “Adote uma árvore” é de distribuir mudas exóticas ou que estão desaparecendo no meio ambiente, assim como forma de readequar o espaço urbano. 

Além de distribuir as plantas, uma forma de controlar o destino delas foi desenvolvido pelos agentes do projeto. 

Maico Patrik de 12 anos auxiliou na entrega das plantas. Ele registrou numa prancheta dados do visitante do projeto que decide ficar com a muda. “Anoto o nome, bairro e tipo de planta. Pra depois colocar no planejamento”, explica o estudante que é do 6º ano.


Desempenho de professores e alunos

Carmem é professora de Geografia. 
(Foto: Jackson Vicente/Focas do Madeira)

Carmem Andrade é de Santana (AP), formada em Geografia há 20 anos, desde quando chegou a Porto Velho manteve suas atividades voltadas à Educação Ambiental.

Como os projetos são extracurriculares, a educadora acredita que quando sair da escola o trabalho não tenha continuidade por outros funcionários.

“Se eu fosse trabalhar em outra escola, com certeza, levaria essa experiência, pois eu amo o que faço. Eu já recebi convites de outras escolas, mas por enquanto quero ficar pela Murilo Braga”, diz.

O sistema de educação hoje favorece aos profissionais de ensino regular, a carga horária de 30 horas. E nestas condições, os tempos que tinham para executar trabalhos externos agora são compostos por mais horas de aulas.

Apesar de terem um tempo curto, o apoio dos alunos é um incentivo maior para continuar trabalhando com atividades práticas.

A aluna Ingrid Brasil, por exemplo, entrou na Com-Vida logo que começou a estudar na escola, em 2009. “Quando eu entrei nem falava com ninguém, eu era muito tímida”, relata. Anos depois não mediu esforços para ajudar a crescer o programa socioeducativo.

Além dela, outros estudantes estão fazendo parte do projeto, especialmente, para adquirir experiência quando precisam melhorar o comportamento nas salas de aula. A fim de estimular o interesse pelos estudos teóricos e práticos da instituição escolar.

Pauta e texto: Jackson Vicente
Edição: Marcela Ximenes

Porto Velho tem sete monumentos tombados pelo estado de Rondônia; maioria está sem conservação

Patrimônio histórico é materialização da identidade coletiva da sociedade, afirma historiador Marco Teixeira



Na Candelária, sucata de locomotivas são o reflexo da atenção do poder público com a história (Foto: Marcela Ximenes/Focas do Madeira)


O Patrimônio Histórico é tombado com o objetivo de preservação, passam pelo processo de tombamento os bens de interesse da comunidade, por seu valor histórico, arquitetônico, artístico ou ambiental. Porto Velho possui sete monumentos tombados pelo estado de Rondônia: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (e todo seu acervo), as Três Caixas d’Água, Porto Velho Hotel (atualmente reitoria da Universidade Federal de Rondônia), a Castanheira do Estádio Aluízio Pinheiro Ferreira, o Museu do Presépio, o Prédio da Administração Central da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré e a Capela de Santo Antônio de Pádua.

De acordo com o professor e historiador Marco Teixeira, o patrimônio histórico é uma materialização de uma identidade coletiva, “Os tombamentos dão referência àquilo que fala coletivamente a sociedade sobre o seu passado”, diz ele. Tombar significa estar registrado em um livro de tombo. Segundo Teixeira, o tombamento de bens históricos é comum a partir da Revolução Francesa.

A historiadora Yedda Borzacov foi a técnica responsável por todos os processos de tombamentos dos patrimônios históricos em Porto Velho. De acordo com ela, a comunidade deve ter consciência da significação e da importância desse patrimônio cultural e as autoridades responsáveis pela preservação não podem ficar omissas. “O patrimônio histórico material de Rondônia precisa de restauração, acho que todos estão desprezados, renegados ao esquecimento há muito tempo [...] Não há ações de restauração e no futuro Porto Velho vai ser uma cidade totalmente desprovida de memória”, avalia a historiadora.

Segundo a diretora do museu do Palácio da Memória, Ednair Nascimento, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel) faz a jardinagem e limpeza da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, com relação à Capela de Santo Antônio de Pádua há manutenção continua.


Estrada de Ferro Madeira-Mamoré

A E.F.M.M é considerada como marco do nascimento de Porto Velho (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira)

A ferrovia foi responsável pelo primeiro impulso para o surgimento de Porto Velho e, consequentemente, de Rondônia. A construção da Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912, intensificou o fluxo migratório e imigratório para a região. O grande empreendimento no meio da selva amazônica tinha o objetivo de ligar o Brasil e a Bolívia ao Oceano Atlântico, visando escoar a produção de borracha. O transporte pelo rio era cheio de dificuldade devido as diversas cachoeiras.

De acordo com o livro Porto Velho 100 anos de história, da professora e historiadora Yedda Borzacov, nenhum estudo sobre a história de Porto Velho poderá ser feito sem citar essa ferrovia, que está intimamente ligada à criação da cidade e as memórias de seu povo: “Era o transporte terrestre a vapor, era a locomotiva, era a ferrovia, era o progresso que roronava, que fumegava, que corria.”

Todo o acervo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré também foi tombado pelo Estado de Rondônia, entre eles constam o Cemitério da Candelária, o Cemitério dos Inocentes, o local da antiga cidade de Santo Antônio do Alto Madeira, o prédio da Cooperativa dos Seringalistas e o Marco das Coordenadas Geográficas da Cidade de Porto Velho.


Caixas d'Água

As Três Caixas D'água são o símbolo histórico na bandeira de Porto Velho (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira)

As Caixas d'Água foram tombada em 26 de dezembro de 1988. Elas foram instaladas para melhorar o processo de abastecimento e distribuição de água em Porto Velho durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Segundo a historiadora Yedda Borzacov, em 1910 a primeira caixa d’água foi instalada e apenas em 1912 a companhia construtora da ferrovia instalou as outras duas.

As Três Caixas d’Água têm capacidade total de 1.362.731 litros e sua instalação completa custou mais de 63 milhões em moeda da época. Elas foram as responsáveis pelo abastecimento da cidade até a desativação em 1957.


Porto Velho Hotel

O Porto Velho Hotel é atualmente a Universidade Federal de Rondônia (Foto: Ana Kézia Gomes/Focas do Madeira)



O Porto Velho Hotel foi tombado em 29 de novembro de 1988, atualmente funciona em suas instalações a Reitoria da Universidade Federal de Rondônia (Unir). O Porto Velho Hotel, inaugurado em 1953, foi construído para substituir o casarão pinho-de-riga- Hotel Brasil, que por mais de 40 anos era o único hotel em Porto Velho.

De acordo com a historiadora Yedda Borzacov, a ampla varanda do Porto Velho Hotel se transformava em um palco natural, onde cantores famosos se apresentaram entre eles Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves e Bevenildo Granda. Além disso, o hotel ficou conhecido nos anos 70 pelas grandes festas beneficentes realizadas pelo Rotary Club.

Com a instalação de hotéis privados na cidade, o Porto Velho Hotel foi desativado em 1974, em 1979 foi denominado “Palácio das Secretarias”, nesse período, o prédio passou por uma reforma e recebeu novas janelas e um auditório.



Castanheira 


A Castanheira localiza-se na rua Rui Barboza, bairro Arigolândia (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira)

A castanheira foi tombada pelo Patrimônio Histórico Cultural, Artístico e Paisagístico do Estado de Rondônia em 1985 e compõe o estádio Aluízio Ferreira. Segundo a historiadora Yedda Borzacov, um dos primeiros relatos sobre a castanheira é de 1945, quando o guarda territorial aposentado Inácio José de Lira chegou a Porto Velho e a árvore já possuía cerca de cinco metros de altura.


Museu do Presépio


O Museu do Presépio foi tombado em 2002 (Foto: Ana Luiza Moreira/G1)


O Museu do Presépio foi tombado em 2002, o museu reúne cerca de duas mil peças de arte sacra. No livro Porto Velho 100 anos de história, Yedda Borzacov explica que o Museu do Presépio não é um museu fragmentado, nem é um museu estático. “A função desse museu não é acumular peças, mas fazer com que elas, na nudez aparente, falem, digam o que foram, mostrem conteúdos artísticos e culturais diante dos estudantes, dos visitantes, dos pesquisadores”.


Prédio da Administração Central da EFMM


O antigo prédio da Administração Central Madeira-Mamoré é conhecido como Prédio do Relógio (Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira) 

O Prédio da Administração Central da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré foi inaugurado em 1950, e baseado no formato de uma locomotiva, a torre do prédio contém um relógio, de acordo com a historiadora Yedda Borzacov, durante anos esse relógio foi o guia de horário para a população de Porto Velho, por isso é conhecido popularmente como prédio do relógio.

Em 1981 no prédio foi instalada a presidência do Banco do Estado de Rondônia (Beron), em meados de 1996 foi sede da Fundação Cultural de Turística (Funcetur), nos anos 2000 o prédio foi restaurado, para a instalação da Biblioteca Pública Estadual Dr. José Pontes Pinto, o Centro de Documentação Histórico, os Museus do Estado de Rondônia e o Geológico. Em 2003 o prédio foi ocupado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer e a Superintendência de Turismo (Setur). Atualmente, o local aguarda passar por uma reforma e reestruturação continua sendo a sede da Setur.

Capela Santo Antônio de Pádua

Capela Santo Antônio de Pádua localiza-se no km 7 da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (Foto: Marcela Ximenes/ Focas do Madeira)

A capela foi tombada em 3 de dezembro de 1986, é a primeira capela construída no estado de Rondônia e se diferencia de uma igreja por não possuir pia batismal. Segundo o historiador Aleks Palitot, com a erradicação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1972, os prédios que resistiram ao desgaste provocado pela natureza foram demolidos, restando apenas um casarão e a Capela de Santo Antônio de Pádua.  

Pauta e texto: Ana Kézia Gomes
Edição: Marcela Ximenes

Idosos participam de atividades físicas para espantar doenças e viver bem

Alguns idosos utilizam do exercício como meio de prevenir doenças cardíacas e até mesmo evitar a depressão muito presente na terceira idade


Idosos participam de atividades para viver bem (Foto: Thaís Dantas/Focas do Madeira)



Um dos males que atinge a sociedade atualmente é o sedentarismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS. Aliado com a correria do dia a dia e práticas alimentares nada saudáveis, o sedentarismo a cada ano cresce e em alguns países já se tornou epidemia, é o caso do Brasil e dos Estados Unidos.

Como busca da cura dessa doença, vários médicos em diversas especialidades, como endocrinologistas e nutricionistas, recomendam a prática de atividade física pelo menos três vezes na semana. E não é só para evitar excesso de peso.

Segundo uma pesquisa pelo Departamento de Psiquiatra da University of Texas, exercícios físicos podem ser tão eficazes contra depressão quanto o uso de um segundo medicamento antidepressivo. Em alguns casos em que a depressão já está em estado avançado, o uso de medicamento se torna ineficaz sendo necessário o uso de outro medicamento.

Para ficar bem e evitar a chegada de outras doenças, a aposentada Estael Cardoso, de 84 anos, participa de um grupo de idosos do Sesc há 20 anos. Ela tem arritmia e já passou por duas cirurgias, o cateterismo e a angioplastia. “É muito bom estar entre nossos amigos, conversar, dançar e rir muito”, diz a aposentada.

Estael Cardoso, 84 anos (Foto: Thaís Dantas/Focas do Madeira)
Segundo a coordenadora do programa de assistência do Sesc, Giulane dos Santos, são 430 idosos matriculados no Sesc Esplanada, em Porto Velho, em atividades divididas em dois períodos do dia.
Tem gente que participa das atividades em todos os horários. Aldeides da Silva e Dagmar Rodrigues não perdem um dia de movimento. Aldeides, paraense de 74 anos, conta que conheceu o grupo de idosos através das amigas, mas confessa que não gostava muito. Com insistência das próprias colegas, a idosa resolveu fazer a matrícula, e está há dois anos no Sesc.

Ela tem o fôlego de um jovem e não deixa de dançar por um minuto. A atividade, além de ser  a preferida dela, mantém o colesterol sob controle. “Meus filhos já estão todos criados, casados e com filhos, então agora é minha vez me cuidar” diz.

Professora aposentada, Dagmar Rodrigues, de 61 anos, já está na equipe há dois anos e meio. A pedido da mãe, Dalila Rodrigues de Carvalho, de 84 anos, Dagmar fez uma experiência e desde então não falta um dia.

Dona Dalila também faz parte do grupo de idosos e pretende chamar a outra filha, que completará 60 anos no próximo ano. Aos poucos ela vai juntando a família para praticar atividade física. Dagmar não tem nenhuma doença, mas diz que a prática de exercícios nunca é demais para a saúde.
Além de não deixar de ir às atividades, Dagmar e a mãe têm o acompanhamento de nutricionistas pelo menos duas vezes ao mês, e seguem tudo o que a médica prescreve.

Para a nutricionista Valéria Gomes, a alimentação na terceira idade é muito importante o cuidado que se tem com alguns alimentos, investir numa refeição rica em fruta e legumes e não abusar de alimentos gordurosos e ricos em sódio é muito importante nessa etapa da vida e sempre aliado a praticas de exercícios físicos e também atividades que ocupam a mente.

Pauta e texto: Thaís Dantas
Edição: Marcela Ximenes

Casa da Cultura Ivan Marrocos quer manter viva a arte de Rondônia

O ambiente oferece parte da riqueza cultural dos rondonienses, no entanto, atrai pouco público.


Casa da Cultura Ivan Marrocos está localizada na avenida Carlos Gomes (Foto: Lindra Lumia/Focas do Madeira)


A casa de Cultura Ivan Marrocos, localizada na avenida Carlos Gomes em Porto Velho, é um espaço destinado aos artistas da própria região ou de outros estados, para que possam expor suas obras de artes. A casa oferece um conjunto de diferentes artesanatos, o cantinho da leitura, e também algumas oficinas de música, dança e teatro.

Os documentos históricos revelam que antes no lugar da casa, existia a Vila Erse, um abrigo para os operários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Quando foi inaugurada em 4 de novembro de 1994 obteve o nome Espaço Cultural de Artes Plásticas, logo em seguida mudou para Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, e em 1995 passou a ser Casa da Cultura Ivan Marrocos, em homenagem ao jornalista falecido naquele ano.

A Casa é uma Unidade Cultural subordinada à Secretaria de Esportes, da Cultura do Lazer (Secel) com o objetivo de promover, estimular, e preservar o patrimônio histórico e cultural do estado. No entanto, os artistas encontram muitas dificuldades.

O artista plástico relata as lacunas enfrentadas pelos expositores ao realizar algum evento. "O apoio a gente espera sempre, existem vários projetos encaminhados ao governo, através da Casa da Cultura Ivan Marrocos, para que se possam fazer algumas oficinas, eventos internos, mas atualmente os gastos públicos estão cortados e estamos fazendo o que se pode fazer que é atender os artistas sem a oferta de patrocínio do estado, contribuindo somente com o espaço”.

Segundo o dirigente da Casa, João Carlos Fernandes, conhecido popularmente como Carlinhos Maracanã, o ambiente oferece parte da riqueza cultural dos rondonienses, no entanto, atrai pouco público.

Pauta e texto: Lindra Lumia
Edição: Marcela Ximenes

Ex-detentos vivem nas ruas de Porto Velho, consomem drogas e praticam pequenos crimes



Delegado explica que há muitos casos de dependentes químicos que chegam à Central de Flagrante e são liberados porque não cometeram crimes



Canteiro da avenida Tiradentes tem um grupo frequente (Foto: Davi Rodrigues/Focas do Madeira)

Pequenos grupos formados em sua maioria por homens tomam conta de alguns pontos de Porto Velho, como a região do Cai n’Água, Campo 13 de Setembro e canteiro da Avenida Tiradentes. Muitos são ex-detentos e todos são dependentes químicos.

G.M, 35 anos, aos 23 cometeu um assalto a mão armada e foi condenado a oito anos e seis meses de prisão, a princípio, deveria ter sido posto em liberdade após três anos em regime fechado, mas devido às suas faltas graves teve sua liberdade retardada. Aos 27 anos, G. saiu em liberdade após participar de atividades que reduziram a pena. No entanto, o ex-detento tem encontrado muita dificuldade para se recolocar na sociedade. Ele não possui documentos pessoais. 

Natural do município de Guajará-Mirim, G. mora nas ruas de Porto Velho e dificilmente mantém contato com seus familiares. Ao ser questionado como a polícia o trata, disse: “como bandido, batem, xingam, dão murro na cara, tratam como bandido mesmo e quando me levam para Central, o delegado me libera de manhã dizendo que já paguei e não tem como me segurar”. 

G. conta que mantém o vício com as gorjetas que ganha cuidando de veículos na região do  Prédio do Relógio, no centro de Porto Velho. 

Nessa mesma dificuldade, I.R.G., 41 anos, natural de Porto Velho começou cheirando cola de sapateiro na adolescência quando engraxava na Estação Rodoviária e ainda frequentava a escola. Aos poucos foi se envolvendo com crimes e já esteve por três vezes no Sistema Prisional. Passa a maior parte do tempo se drogando entre outros dependentes químicos no entorno do Campo 13 de Setembro ou na avenida Tiradentes.  Briga constantemente nas ruas, já esfaqueou e foi esfaqueado.

Em uma dessas vezes, passou um mês internado em estado grave no Pronto-Socorro João Paulo II após levar diversas facadas de outro usuário de droga após uma briga em um bar localizado na avenida Jorge Teixeira. Hoje anda com uma garrafa pet cheirando tiner, bebendo álcool e fumando pedra de crack.  Esteve em vários centros de recuperação para dependentes, mas sempre tem recaída. 

Dentre essas idas e vindas, apenas se aproxima de sua família, que mora no bairro Embratel, quando está lúcido. Certa vez, conta, deixou cair uma faísca da droga no sofá e causou um pequeno incêndio.

O diretor da Central de Flagrantes, delegado Claudionor Soares Muniz, rebateu a questão que os policiais militares prendem e os civis ou o poder judiciário soltam. A fim de exemplificar, disse que em 2015 foram registradas 9.236 ocorrências na Central de Flagrantes e desse total houve 4.350 instaurações de inquéritos policiais. Ou seja, quase a metade foi de autuação em flagrante.  Quando recebe a ocorrência, o delegado verifica se o caso configura crime e se este foi praticado mediante flagrante, caso contrário, não cabe prisão.

Dentro da lei

Em relação às pessoas que são eventualmente pegas com pequenas porções de droga em determinados locais e circunstâncias, o delegado explicou que necessariamente não cabe prisão porque o artigo 28 da Lei das Drogas prevê o porte para uso pessoal. Ocorre um procedimento diferente de autuação em flagrante delito, que é o inquérito denominado Termo Circunstanciado (TC). “Então é por isso que ele entra pela porta dos fundos e pode, se for o caso, sair pela porta da frente após assinar um termo de compromisso em comparecer nos autos. Isso está previsto em lei”, diz o diretor da Central de Flagrantes.

De acordo com Claudionor Soares Muniz, das ocorrências citadas 1.540 se transformaram em TC, que são aquelas ocorrências de menor potencial ofensivo a exemplo de posse de droga, lesão corporal, ameaça, injúria, difamação e desacato. “Ainda dentro dessas 9.236 ocorrências nós temos 4.711 prisões que não foram de flagrantes e sim de mandado, ou seja, são pessoas que foram recapturadas. O que quero dizer com isso é que dentre essas ocorrências uma minoria saiu daqui sem que a pessoa fosse presa, submetida a TC ou a inquérito”, detalhou.


Delegado Claudionor, diretor da Central de Flagrantes
(Foto: Davi Rodrigues/Focas do Madeira)
A pessoa conduzida à Central de Flagrantes só é liberada se o fato não for criminoso e não couber flagrante, mas se for afiançável a pessoa recolhe a fiança. Por outro lado, todos os presos, exceto os com mandados de prisão que vão direto para o presídio, são apresentados ao juiz de custódia. “Este é quem faz a análise se pode ser decretada a preventiva contra aquela pessoa que está sendo apresentada, ou se ela recebe liberdade provisória ou relaxamento do flagrante para ser solta. Só para ter uma ideia, eu estou na Central desde dezembro e só vi um caso de relaxamento de prisão em flagrante, agora de liberdade provisória tem sido praticamente a regra” explicou.

Em relação as idas e vindas de ex-detentos à Central de Flagrante, diz que se o conduzido cometeu um crime há oito anos, o Delegado pesquisa se ele tem um mandado pendente, caso contrário, não tem o que cumprir contra o mesmo. No entanto, independentemente do tempo que ficou preso, caso seja pego com droga é apresentado em circunstância de flagrante e a autoridade policial lavra o TC. “Essa conversa de que ‘eu passei pela Central de Polícia e me liberaram sem tomar providência alguma’, isso não acontece, não acontece porque as providências são adotadas aqui tanto é que os números indicam uma alta produtividade nesses procedimentos” concluiu.

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Moradores de rua de Porto Velho contam com a solidariedade para sobreviver


Pauta e texto: David Rodrigues 
Edição: Marcela Ximenes

Projeto dá segunda chance para motoristas pegos em blitz da Lei Seca em Porto Velho

Projeto é realizado entre parcerias do Detran e Tribunal de Justiça

O alcoolismo no trânsito é um problema alarmante. De acordo com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), em 70% dos acidentes pelo menos um dos envolvidos estava alcoolizados. Para evitar esses acidentes, existe a lei seca, promulgada em 2008. Em 2009 surgiu o projeto “Embriaguez ao volante: preserve a vida e não entre em choque com a lei” parceria Varas Criminais de Porto Velho e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). O projeto surgiu da necessidade de combater de maneira mais eficaz os delitos de trânsito devido a crescente demanda no Judiciário desse tipo de crimes.

A iniciativa do projeto é da 2ª Vara Criminal da comarca de Porto Velho. Desde então, as demais varas criminais da capital vêm desenvolvendo essa iniciativa em parceria com o Detran. Para o idealizador do projeto, desembargador Valdecir Castellar, a palestra é reflexiva. “Os vídeos provocam grande impacto nos motoristas, sobretudo pelo caráter realista das consequências de se dirigir alcoolizado”.

O projeto tem como objetivo fazer com que os participantes reflitam sobre o mau comportamento no trânsito, e dos perigos que a mistura de álcool e direção podem trazer a sociedade.Para a palestrante Laudine Oliveira, o projeto serve para trazer reflexão aos infratores “A aula faz efeito, e as pessoas que passam por aqui se conscientizam do erro que cometeram”.

“Quando fui pego estava embriagado, pensei que não teria nenhum problema, pois estava dirigindo perfeitamente”, disse um dos condutores pegos na fiscalização da Lei Seca, que participou de palestra obrigatória no processo.

Como funciona

No momento da apreensão o réu é preso e conduzido para a Central de Polícia, o Ministério Público oferece um acordo para o réu (apenas para quem não possui antecedentes criminais), caso aceite, o juiz homologa o acordo e impõe algumas condições. Após a homologação do acordo, o motorista entra em um período de prova que dura entre 2 e 4 anos e sofre certas limitações, como proibição de frequentar bares, ou lugares que comercializem bebidas alcoólicas para consumo no local após as 22h, salvo para trabalho; proibição de ausentar-se da comarca por mais de 30 dias sem autorização do juiz; comunicar as autoridades o novo endereço, quando mudar de residência; doação da fiança prestada, repassada quando do término do período de prova, para a instituição de assistência.

Caso o motorista durante esse período probatóri oseja processado por um novo delito, que descumpra um dos termos do acordo, a suspensão é revogada imediatamente e ele será julgado e pode até ser preso.


Participantes recebendo orientações (foto: Tribunal de Justiça/Divulgação)

Para participar da palestra é necessário ser intimado. Caso não compareça, é dada a oportunidade de assistir a palestra em outra ocasião, após justificar a ausência. Todas as palestras são realizadas no auditório do Fórum Criminal Fouad Darwich Zacharias, sempre às 11h. No decorrer do ano foram realizadas 2 aulas, uma em fevereiro e outra em abril. No dia 25 de junho de 2016 haverá mais uma etapa.

A Lei
A lei, em 2008, permitia que fosse consumido um copo (350 ml), no teste do bafômetro indicasse 0,1 miligramas de álcool e no exame de sangue 0,2 por litro de sangue, com a mudança da lei em 2012, passou a ser mais rigorosa, não é permitido nenhum copo de álcool e no bafômetro 0,05 e 0 no exame de sangue. Quem for pego acima dos valores pagará uma multa de R$ 1.915,40 e perderá sete pontos na carteira de habilitação.

Pauta e texto: Isabela Pereira
Edição: Marcela Ximenes

Crise financeira faz empresas áreas modificarem a malha aeroviária em Rondônia

Para evitar maiores prejuízos empresas vem reduzindo o número de voos em todo país. Em Porto Velho, Infraero prevê redução de 20% no fluxo de passageiros em 2016.




Movimentação no aeroporto de Porto Velho dever ser deve ter queda de 20% em relação a 2015. (Foto: Jefferson Carvalho/Focas do Madeira)

Em meio a crise econômica que afeta o país, o estado de Rondônia passa por uma  modificação na forma de voar, para reduzir gastos as empresas aéreas que operam no aeroporto internacional Jorge Teixeira de Oliveira cancelaram voos, demitiram funcionários e tentam sobreviver em meio a uma economia esfacelada.

O caixa das principais empresas aéreas teve prejuízo líquido de cerca de R$ 3,7 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado. Desde 2011, as perdas acumuladas pelas companhias somam um rombo de R$ 13 bilhões.

O novo prejuízo registrado pelas principais companhias aéreas levou as empresas Gol e Azul a modificar a malha aérea, com cancelamento de voos em diversos estados brasileiros. 
Um dos estados afetados pela nova medida foi Rondônia, do inicio deste ano até o mês de maio a Gol cancelou os voos com as rotas de São Paulo-Porto Velho, Cuiabá-Porto Velho e Porto Velho com destino a Manaus e Rio Branco.  A Azul cancelou os voos com destino a Rio Branco.

Para quem realiza viagens o cenário atual é desanimador. É o caso da Dona Maria Caetano Pereira, aposentada de 64 anos. Ela costumava realizar entre três e quatro viagens por ano e atualmente aperta o orçamento para realizar apenas uma. Os destinos mais frequentes eram o Sul e Sudeste do país. Atualmente ela diz que tem que reavaliar as contas para programar uma viagem. “Antigamente era coisa de três, quatro viagens ao ano, já fui a Aparecida (em São Paulo), Camboriú (em Santa Catariana) e hoje em dia tenho que enxugar o orçamento para realizar uma viagem para o Nordeste, onde quero ir esse ano”, relata ela.

Apesar na queda no preço das passagens, a aposentada afirma que não sente a diferença no bolso, ela diz que uma viagem para Manaus custa quase R$ 2 mil. Em uma pesquisa no site da Latam (antiga TAM linha aéreas), uma passagem de ida e volta para a capital do Amazonas está custando em média R$ 1.871,44. “É um absurdo, Manaus é do lado do estado (de Rondônia), a passagem custa uma fortuna, como viajamos em seis sai muito caro”, desabafa a aposentada.

Sem incentivo

A modificação da malha aérea vem na contramão do preço das passagens, que vem caindo nos últimos anos. Em 2014, o preço médio da passagem era de R$ 332 uma queda de 4,5%. A queda nos valores em 2014 reverteu um movimento de alta dos preços que foi iniciado em 2012. 

Para o gerente de operações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Marco Crespo, a reformulação da malha aeroviária é um reflexo da situação econômica, de acordo com ele esse é o segundo passo para diminuir os custos das companhias, já que o primeiro (demissões) vem sendo feito nos últimos dois anos. “A mudança da forma como se voa no país prejudica o usuário, que para ir para uma cidade próxima como Belém paga quase mil reais. São preços altos para trechos pequenos, tem promoções com trechos a partir de R$ 89,00, mas são mais concentrados em trecho do sudeste”, disse ele.

Ainda segundo Crespo, o movimento para este ano no Aeroporto Jorge Teixeira de Oliveira será 20% menor que no ano passado. “Tivemos 933 mil pessoas passando pelo aeroporto ao longo de 2015, esse ano devido ao agravamento da crise vamos ter um fluxo 20% menor”, afirmou.

Para o superintendente, o mês de férias também não trará um aumento no movimento. “não estamos vendo até o momento um aumento na venda de passagens para o meio do ano, o movimento deve sofrer uma queda. Até que a população volte a ser incentivada ao consumo as empresas vão amargar muitos prejuízos com já estamos vendo ao longo dos anos”, finalizou. 

Turismo estadual

Segundo a Superintendência de Turismo de Rondônia (Setur), a redução nos voos no estado se deve a questões políticas, principalmente ao aumento da alíquota do querosene, combustível utilizado em aeronaves. 

Ainda de acordo com a Setur, o turismo para regiões como Ouro Preto do Oeste e Cacoal se deve a facilidade de acesso, que se dá pela BR-364. A Setur não dispõe de dados sobre o turismo em Rondônia por não possuir um setor de estatística. 

No ano de 2010 o executivo estadual editou uma lei que foi aprovada pelo Legislativo, concedendo o benefício de redução na alíquota do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) para o Querosene de Aviação  (QAV). A lei foi suspensa por decisão do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO), após o Ministério Publico de Rondônia (MP-RO) impetrar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), alegando que o governo não havia feito acordo com o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) o que tornou a lei ineficaz por decisão do pleno do TJ em 2014.

Pior abril dos últimos três anos 

A Abear divulgou em 23 de março o resultado de abril do setor aéreo, segundo a associação no os voos domésticos no mês de abril totalizaram 6,8 milhões, o que significou uma queda de 12% em comparação ao a no anterior. Esse foi o pior resultado mensal desde fevereiro de 2013.
Já no acumulado do ano, entre os meses de janeiro e abril a demanda caiu 6,5%, a oferta também sofreu um tombo de 5,3% na comparação com 2015. No mesmo período foram transportados 29,7 bilhões de passageiros, o número apresentou um recuo de 7,3% ante o ano de 2015.

Pauta e texto: Jefferson Carvalho 
Edição: Marcela Ximenes

Moradores de rua de Porto Velho contam com a solidariedade para sobreviver

Em quase todas as ruas centrais da capital é possível encontrar pessoas pedindo esmolas e dormindo no chão. 

João (nome fictício) conta que já não lembra por quanto tempo vive na rua. “Ah, faz tempo que vivo assim, eu fico cuidando dos carros e depois vou ali pra baixo das árvores alimento o vício, eu durmo em baixo de papelões e me alimento dos restos de comida de restaurante, ou no Restaurante Popular a comida é um real. Às vezes no sábado vem um grupo de pessoas de uma igreja que eu não sei o nome e traz sopa pra gente”, diz João. 


Moradores de rua nas avenidas de Porto Velho.  (Foto: Weliton Nunes/Divulgação)
Há quatro meses um grupo da igreja Adventista faz ação social afim de resgatar essas pessoas da rua, das drogas. Sergio Gomes é um dos voluntários da igreja. “Nossa equipe é um grupo de dez pessoas. A gente vai em vários pontos da cidade e distribuímos comida para essas pessoas, também oramos com eles e entregamos panfletos convidando para frequentar nossa igreja. O grupo tem pouco tempo mas já conseguimos resgatar o Francisco, ele aceitou nosso convite para conhecer a igreja, lá conheceu uma senhora com quem começou a se relacionar, atualmente conseguiu um emprego em uma fazenda e trabalha como caseiro. O objetivo é trazer mais pessoas e mudar a história delas para melhor, assim como aconteceu com o Francisco” afirma.

Rua e fusca

Várias são as histórias e motivos para essas pessoas viverem na rua. Roberto Brega, como é conhecido, é um morador de rua que veio de Pernambuco realizar um sonho, viver de música. 

Ele deixou filhos e esposa para correr atrás do sonho e deixou a promessa que voltaria para a cidade natal com uma boa condição.  Ao chegar na capital, com seu teclado fazia shows nas praças, porém com o passar do tempo o cachê não era mais o mesmo e ele teve que morar na rua para ter o dinheiro de se alimentar.
Roberto Brega com seu cartaz e fusca que hoje em dia
se encontra na oficina. (Foto: Eliete Marques/G1)

“Passei a dormir nas ruas até que um empresário que não lembro o nome, me deu o fusca azul que passou a ser minha casa, está no conserto pois deu alguns problemas. Mas meu sonho hoje é gravar um CD com as músicas que eu mesmo escrevi. Eu trabalho todos os dias indo ficar nas esquinas principais da cidade com meu banner, ai com o dinheiro eu me alimento e junto dinheiro pra consertar algo e juntar dinheiro pro meu CD. Às vezes vem uma moça e lava minha roupa, dá comida. Um dia vou conseguir trazer minha família pra morar comigo” concluiu Roberto.

Recentemente, foi encontrado pelo irmão, que veio de Pernambuco, Roberto se recusou a voltar para a cidade natal pois já havia se conformado com a vida aqui e ainda não tinha gravado seu CD para voltar e cumprir a promessa que fez à família. Atualmente Roberto Brega recebe uma ajuda em dinheiro do irmão e continua nas esquinas da cidade divulgando seu trabalho.


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Pauta e texto: Jéssica Natalí 
Edição: Marcela Ximenes

Economista apaixonada por livros utiliza garagem de casa para incentivar crianças a ler



Rita de Cássia reúne crianças com finalidade de desenvolver a criatividade e despertar o gosto pela leitura de forma divertida e voluntária.


Crianças da sala de leitura Ojuobá mostrando o que aprenderam na tarde de atividades (Foto: Géssica Castro/Focas do Madeira)

Uma garagem comum, em um bairro comum de uma cidade comum. Comum demais para Rita de Cássia, uma economista de 54 anos que há 7 decidiu unir seu tempo livre com a paixão de ensinar.

Rita tem um emprego estável e também possui formação em letras. Um problema de saúde e a impossibilidade de trabalhar fez com que ela readaptasse seu cotidiano. Surgiu a ideia de montar ali mesmo, na garagem de casa, uma sala de leitura que atendesse as crianças do bairro.

Ela costuma dizer que lá as crianças não aprendem nada, e sim, compartilham experiências umas com as outras. “A pretensão é que as crianças se apaixonem. [...] Queremos que a história faça sentido, que realmente toque a criança.”

Os livros na sala vão desde literatura clássica a lançamentos. Rita quer semear nas crianças o prazer pela leitura e assim, proporcionar um desenvolvimento pessoal em cada uma. Mas a sala não é somente leitura. Brincadeiras, desenhos e atividades criativas são desenvolvidas nos encontros que acontecem três vezes na semana.

Para incentivar ainda mais a prática da leitura, Rita criou a moeda própria da sala, o Aimirin, que em tupi-guarani significa “formiga”. A cada livro lido e atividade realizada, a criança ganha uma moeda e no fim, troca por brincadeiras no computador, e até mesmo objetos que são “vendidos” no bazar que é realizado uma vez por mês.

Desenhos feitos por crianças da sala Ojuobá (Foto: Géssica Castro/Focas do Madeira). 
Nada disso seria possível se não fosse a dedicação e amor de Cássia pelas crianças. Ela brinca, ensina e até briga se for necessário.  Nesses sete anos, mais de sete mil crianças passaram pela sala, entre elas Neuranir, que é surda e muda. Rita diz que as crianças aprendem muito entre si, e que com Neuranir, todos estão aprendendo libras pra se comunicar com a colega.

Rita diz que os vizinhos ajudam pouco e que as pessoas ainda querem doar livros escolares, com equações e exercícios. Ela explica que a sala de leitura tem como principal objetivo despertar a vontade de ler, então, pede apenas a presença daqueles que desejam ajudar o projeto. “Quando alguém pergunta como pode ajudar, eu peço a presença. Muitas vezes aqui está lotado e eu não conseguiria fazer isso sozinha, sentar com uma criança pra ler, brincar, contar e interpretar junto aquela história”, explica.

Rita pretende melhorar a estrutura da sala com ar-condicionado e futuramente conseguir uma sede onde possa desenvolver trabalhos também com idosos.

A sala de leitura funciona terça, quinta e sexta-feira das 18h às 20h e aos domingos das 16 às 18h, no final da rua Major Amarante no bairro Arigolândia, em Porto Velho.


Pauta e Texto: Géssica Castro 
Edição: Marcela Ximenes

sábado, 18 de junho de 2016

Inovação e brilho fazem parte da Quadrilha Rádio Farol

A quadrilha é a maior campeã do Arraial Flor do Maracujá com 11 títulos 



Rádio Farol é a maior campeã do festival de quadrilhas (Foto: Facebook/Reprodução)




No dia 12 de março de 1997 surgia a Quadrilha Rádio Farol, comandada por Severino Silva Castro participou no mesmo ano da eliminatória que definia sua participação no maior arraial da região     Norte, o Flor do Maracujá e levanta o primeiro de vários títulos. No ano seguinte, Rádio Farol com seu jeito inovador conquistou o público pelo seu figurino colorido.

Em 1999 trouxe uma novidade para o mundo do São João, roupas iguais para todos os brincantes apelidada de “escolinhas” por criar algo que seria copiado por outros grupos. Além do figurino,  trouxe o teclado como instrumento criando um ritmo mais acelerado, inovando ainda mais. No mesmo ano foi criada a Quadrilha Mirim da Rádio Farol, que em seu primeiro ano conquistou o primeiro lugar. Atualmente tem 10 títulos e a quadrilha adulta 11.

Em 2016 a quadrilha completou 19 anos de existência, conhecida antes por se apresentar em festivais de bairros, passou a representar Rondônia em outros Estados e até países com o intercâmbio cultural na Itália. O grupo serve de espelho  para os outros grupos que adotaram as tradições, seguindo a mesma roupagem e inovação.

Rádio Farol se resume em equipes, equipes de quadra composta por coreógrafos e coordenação, equipes de artesões e pintores que fazem a parte do cenário e alegoria.

“Nossa quadrilha é totalmente carnavalesca, muita cor, brilho, tem gente que sai de casa só pra assistir a Rádio Farol se apresentar”, diz Luciane Lopes, coreógrafa da quadrilha.

Os trabalhos começam no mês de novembro do ano anterior, para quando for em fevereiro boa parte estar pronta, como repertório, tema, alegorias, roupas. O grupo ensaia na quadra da escola Castelo Branco, e faz diversas apresentações durante o ano.

A agremiação tem sede própria chamada de Centro Cultural, um espaço voltado para a comunidade com aula de informática, capoeira, teatro, dança, balé e quadrilha, um espaço onde todos possam participar, incluindo crianças e jovens no mundo da cultura.

Pauta e texto: Jeysa Raiane
Edição: Marcela Ximenes



quarta-feira, 15 de junho de 2016

Porto Velho tem o segundo pior saneamento básico do país, aponta pesquisa


O Instituto Trata Brasil divulga o ranking de saneamento básico desde 2009

O que antes era um igarapé se transformou em esgoto (Foto: Maximus Vargas/Focas do Madeira)


Entre as 100 maiores cidades do país, Porto Velho está na segunda posição com o índice de pior saneamento básico, ficando atrás apenas de Ananindeua cidade do estado do Pará. O ranking de 2016 foi divulgado pelo Instituto Trata Brasil, que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), com dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento Básico (SNIS). Esses dados são fornecidos pelas empresas que tratam da água e esgotos nos estados e municípios em todo o Brasil.

O Instituto Trata Brasil divulga o ranking de saneamento básico desde 2009, depois de ouvir as autoridade e entidades ligadas ao meio ambiente e saneamento. Segundo análises nesses dados, apenas 2% da população porto-velhense tem coleta de esgoto.O saneamento básico ainda é um problema que levará tempos para ser resolvido.

A finalidade do ranking publicado pelo Instituto Trata Brasil é mostrar a situação em que se encontra o saneamento básico em todo o país, mas também valorizar os esforços que cada cidade vem tendo para mudar a realidade local. Franca (SP), Londrina (PR) e Uberlândia (MG) são as cidades com o melhor desempenho de saneamento básico. Já Ananindeua(PA) e Porto Velho estão com as posições de piores cidades a respeito de saneamento básico.

Melhores e Piores indicadores em população com coletas de esgoto 

Tabela com as piores e melhores cidades no ranking de saneamento básico do Brasil
(Tabela: Maximus Vargas/Focas do Madeira)

Em 14 de maio de 2015, foi firmado um pacto entre governo Federal e o Governo do estado de Rondônia para melhorar o índice do saneamento em Porto Velho. A expectativa era de que 40% da população seria atendida com rede de esgoto sanitário, a partir de investimentos que poderiam chegar a R$ 700 milhões.

Conforme o pacto,  quando pronta, a Estação de Tratamento de Esgoto da Zona Sul de Porto Velho (ETE Sul) atenderá 200 mil moradores em 40 bairros – São, Triângulo, Areia Branca, Novo Horizonte, Cidade Nova, Cidade do Lobo, Conceição, Caladinho, Cohab, Castanheira, Aeroclube, Eletronorte, Militar, Conjunto Residencial Cujubim, Tupi, Nova Floresta, Tucumanzal, Areal, Roque, Mato Grosso, Jatuarana, Floresta, Eldorado, Conjunto Rio de Janeiro 1, 2 e 3, Agenor de Carvalho, Conjunto Residencial Porto Seguro, Lagoa, Conjunto Residencial Vila Bella, Conjunto Jamary, Três Marias, Tiradentes, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Castanheira, Socialista, São Francisco, Cidade Jardim, Mariana, Ulisses Guimarães, Marcos Freire e Ronaldo Aragão.

Mapa dos bairros que serão beneficiados com tratamentos de esgoto ETE SUL em Porto Velho
(Foto: Maximus Vargas/Focas do Madeira)

A Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd) disse que o tratamento de esgoto assim como construção de bueiros está sobre responsabilidade da Prefeitura de Porto Velho. Já a Secretaria Municipal de Obras (Semob) fala que a implantação e manutenção de rede de esgoto, e os respectivos recursos para serviços, são de responsabilidades do Governo do Estado, que fica sobre responsabilidade da Caerd.

Sem saber de quem realmente é a competência sobre o saneamento na capital, a população segue sendo prejudicada. Dona Ivone Pereira de Souza mora há mais de 20 anos no bairro Esperança da Comunidade conta que quando se mudou para o bairro, os atuais bueiros eram igarapés e serviam de lazer para seus filhos. A água do local a dona de casa usava para lavar roupas e louças.

“Hoje não presta para nada isso tudo ai, o cheiro é insuportável, já vieram aqui e disseram que vão tampar até ali em baixo (apontando para o córrego), mas nunca mais vieram. Quando passamos ali na esquina dá para sentir o cheiro. O que a gente espera é que apenas volte a passar a fumaça aqui, por que desse jeito tem muito mosquito aqui”, diz, meio sem esperança, dona Ivone.

Não só nos bairros periféricos de Porto Velho, mas também no centro o tratamento de esgoto não acontece. Segundo o empresário Rennan Batista, “quase nunca" a prefeitura faz o serviço de limpeza dos bueiros. "Muitas vezes eu mesmo faço por conta própria, para que os usuários de drogas não fiquem ai nessa moita. Não sei como tirar esse cheiro de podre que fica ai”, reclama Rennan.



Pauta e Texto: Maximus Vargas
Edição: Marcela Ximenes

Memórias incentivam um grito de cantadores em Porto Velho

Sucessão musical é responsável pela identidade cultural da cidade.
Antigo e o moderno são registros da história de um povo através da música.

Costumes, pessoas e lugares fazem parte de composições musicais que registram a história de Porto Velho.
(Foto: Jenifer Zambiazzi/Divulgação)

A história da música de Porto Velho começou em meados dos anos 60, mas a formação do cenário cultural conhecido nos dias de hoje se deu com o “Grito de Cantadores”, festival de música projetado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) em 1989, que despertou artistas a expressar composições e contar a vida de uma cidade através da música.

Letras que contam a história de um povo, os costumes de uma cidade, os personagens da cultura rica que continua a se movimentar e desenvolver no cenário musical porto-velhense. As composições dos “mastodontes” Bado, Binho, Augusto Silveira, Laio, Nega, dentre outros que iniciaram essa história de identidade única seguem nas revelações musicais atuais.

Nas anos 70 a influência musical vinha dos americanos, com o jazz. Mas, de acordo com o historiador Anísio Gorayeb, os intérpretes iniciaram as carreiras, muitos como artistas ocultos que foram se mostrando com as oportunidades de apresentações em rádios e festivais de música, e outros já dedicados e decididos a fazer história, com canções de suas autorias e participações marcantes em diversos projetos culturais de Porto Velho.

Augusto Silveira (Foto: Arquivo Pessoal)
O projeto que deu início à música conhecida como local, de valor popular brasileiro, chamava-se “Grito de Cantadores”, promovido pelo Sesc em 1978. Jovens músicos profissionais e amantes da música participaram e permaneceram fielmente até 1992, quando o movimento de cantadores se transforma no projeto musical chamado “Porto das Esperanças”, que abre espaço para o lançamento desses artistas ao público porto-velhense no projeto cultural e educacional Circuito Musical nas escolas, dando origem ao CD gravado em conjunto “Amazônia em Canto”.

O desenvolvimento dos artistas em projetos culturais abriu portas para os trabalhos coletivos e individuais. Segundo o músico Augusto Silveira, também biólogo graduado, a partir de 1998, financiamentos proporcionaram as produções em trabalhos solos de muitos artistas, possibilitando assim mais registros da rica cultura musical popular de Porto Velho.
Em 1977, Augusto Silveira chegou a Porto Velho, quando decidiu se especializar em citopalogia. Um ano depois conheceu a esposa e com o trabalho especializado em ecologia e conservação da biodiversidade criou raízes em Porto Velho.

Augusto relacionou a música com a biologia e explicou como enxerga uma característica dos trabalhos culturais desenvolvidos na cidade. “A ecologia me ensinou uma coisa, o fenômeno Sucessão Ecológica, as gerações, que mantêm um bosque tropical como ele é, um cerrado, um rio, em função da sucessão das espécies que compõem aquele cenário. Em Porto Velho, o que acontece hoje, com a qualidade desses grupos, de garotos novos, é a sucessão, árvores novas que desenvolvem à sombra de velhas arvores”.

O artista também falou que nesse processo sucessório, os intérpretes, assim como os compositores, são responsáveis em propagar a cultura local. “Você ser cantado por alguém é uma honra”, falou Silveira. 
Bado, um dos artistas que representa a cidade (Foto: Arquivo Pessoal)

Bado, instrumentista e compositor rondoniense, conhecido em todo o país, é responsável por um grande acervo musical, também desenvolveu trabalhos a partir de criações para teatros e documentários. Graduado em música, seguiu a carreira nos palcos e nas salas de aula, quando foi aprovado em um concurso público e passou a ensinar na Escola de Música Jorge Andrade. Participante ativo dos movimentos culturais promovidos pelo Sesc, o artista desenvolveu seu trabalho, focado na valorização da música que conta a história da terra.
As referências musicais para muitos artistas também vêm das escolas de samba, composições locais que desencadeou em uma série de criações em diversas vertentes e traz os programas de auditórios, que incentivam e estimulam os novos artistas na década de 80. “Em uma abordagem geral, eu ouvia aquela galera cantando nos programas de auditórios e desencadeei nessa coisa de criar. Comecei a fazer música para teatro com links de experiência vendo os sambistas, compositores locais”.

O Grito de Cantadores permitiu o início da consolidação da identidade musical local. Assim como outros artistas Bado e Augusto participam ativamente de parcerias com a jovem guarda porto-velhense, sempre preocupados em desenvolver mais história e registrar a memória de um povo. “Comecei com o Grito de Cantadores, em 1983 e não parei mais. Apostando só na terra, correndo atrás da minha história como compositor, tocava na noite e investia nos shows com músicas próprias”.

Uma música rebelde, que se expressa com ousadia, permanece. A sua continuidade se dá no surgimento de artistas e parcerias entre os modernos e os antigos. Dentro dessa contextualidade a música de Porto Velho é muito rica, extremamente criativa, onde as pessoas mantém um processo contínuo de criação.

Pauta e texto: Gaia Quiquiô
Edição: Marcela Ximenes