sexta-feira, 8 de julho de 2016

Frota de motocicletas aumenta em Porto Velho e dispara registros de acidentes de trânsito



Em dez anos a frota de motos saltou de 17 mil para mais de 92 mil, segundo Detran-RO

Facilidades na compra de motos colaboram para o índice de acidentes em Porto Velho (Foto: Hosana Morais/Focas do Madeira)
A maioria dos acidentes em Porto Velho envolve motocicletas, segundo o Departamento de Trânsito de Rondônia (Detran-RO). O órgão afirma que em dez anos a frota de motos saltou de 17.397 para 92.583. Com isso as ocorrências de acidentes também cresceram. Conforme a Secretaria de Saúde do Estado (Sesau) de Rondônia, o número de vítimas com esse veículo é oito vezes maior que de vítimas de automóveis que dão entrada no maior pronto-socorro público do estado.

Dados da Sesau apontam que em 2014 deram entrada no Hospital de Pronto-Socorro João Paulo II 4.697 vítimas de acidentes de trânsito causados por motocicletas.  A venda desenfreada de motocicletas pode estar ligada a quantidade de acidentes envolvendo motociclistas, pois para se adquirir uma moto não há necessidade de apresentar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).  Segundo uma concessionária de motos de Porto Velho, são vendidas por ano 3.600 motocicletas na loja. 

A maior parte dos acidentes envolvem motociclistas em Porto Velho, segundo Sesau (Hosana Morais/Focas do Madeira)





Facilidades para obter uma motocicleta
O vendedor Juscelino Nascimento, explica as facilidades de comprar uma motocicleta. Segundo ele, há três possibilidades para se comprar uma moto: pode ser à vista, a prazo ou financiada. De acordo com o vendedor, a primeira opção de compra é à vista, quando o usuário faz um planejamento, ou uma poupança, por exemplo, e paga o valor total do bem.

Conforme Juscelino, a segunda opção é a necessidade urgente, quando o cliente consegue um trabalho e precisa com rapidez de um transporte o que faz optar por um financiamento. De mordo geral, o consumidor deve dar entrada no valor da taxa. "Há uns dias fizemos a promoção e o cliente dava entrada no valor de R$ 350 e financiava por 48 meses, a parcela ficou no valor de R$ 349,90", explica Juscelino.

A terceira e última oportunidade é a compra programada - mais conhecida como consórcio, quando o cliente entra no plano pagando o valor da parcela. Mas, se ele quiser dar um lance para obter a moto no mesmo mês que iniciou o consórcio, pode dar um lance no valor de 45% da motocicleta e assim, se for sorteado, consegue retirá-la.

"Geralmente as pessoas optam pelo financiamento, mesmo que elas paguem o dobro do valor do veiculo, a necessidade fala mais alto. A segunda opção é o consórcio. Temos planos que variam de 12 até 72 meses. Logo o comprador escolhe o que é melhor para ele. Antes da crise em que vivemos eu vendia em média 20 motos por mês, hoje em dia uma média de 15, diminuiu, mas o financiamento continua o mesmo", contou o vendedor. 


Blitz da Operação Lei Seca são realizadas nas ruas de Porto
Velho durante a madrugada (Hosana Morais/Focas do Madeira)
Fiscalização
O comandante da Companhia Independente de Policiamento de Trânsito (Cia Trânsito) da Polícia Militar, tenente-coronel Alexandre de Lima, acredita que as colisões ocorrem devido a pressa dos condutores. 


"A motocicleta está envolvida na maior partes dos acidentes de Porto Velho. Sempre o motociclista tenta tirar vantagem de que seu veículo é menor e acabam criando-se o corredor de motos que é irregular, com isso ocorrem as ultrapassagens indevidas, causando assim acidentes", explicou De Lima.

De acordo com o Departamento de Trânsito de Rondônia (Detran-RO), das 6.986 colisões causadas nas ruas de Porto Velho, 3.509 envolveram motociclistas. 

O Ministério da Saúde realizou uma pesquisa que constatou que, Porto Velho teve um aumento no número de motoristas que dirigem alcoolizados, em 2015, 8,5 % da população admitiu dirigir sobre efeito de bebida alcoólica

Equipamento de proteção
De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito (CTB), os motociclistas devem circular nas vias utilizando capacete, com viseira ou óculos de proteção, além do uso das roupas, como calça, camisetas, sapatos fechados, conforme o Conselho Nacional de Trânsito (Contran). 

Os passageiros das motocicletas também devem sempre utilizar capacete de segurança afivelado. Caso essas recomendações não sejam executadas, o condutor do veículo pode ser multado por um agente de trânsito.

Pauta e texto: Hosana Morais
Edição: Marcela Ximenes

Embriagado, DJ sofre acidente de moto em Porto Velho e opta pela amputação da perna

“Hoje eu não consigo mais andar tanto como eu andava antes. Mas, eu vou tocando a vida do jeito que posso”, disse o DJ.


Eduardo sofreu um acidente em maio de 2014, após misturar álcool e direção (Foto: Hosana Morais:Focas do Madeira)
Após um acidente de trânsito, mais de dez cirurgias, muitos remédios, 12 meses de internação, o DJ Eduardo dos Santos optou pela amputação da perna esquerda. A batida foi em março de 2014, Eduardo estava voltando de uma festa de motocicleta, após ingerir bebida alcoólica, em uma curva, ele percebeu que iria bater, tentou tirar a o veículo. Porém, acabou colidindo na lateral de um ônibus de transporte coletivo, na Zona Sul de Porto Velho. A pancada foi tão forte que sua perna esquerda ficou presa e ele desmaiou. 

De acordo com Eduardo, ele só acordou com a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). "Eu só me lembro que desmaiei e acordei depois com os médicos", contou. 

Após ser socorrido, Eduardo foi encaminhado ao Hospital de Pronto-Socorro João Paulo II, onde ficou internado por três dias. Logo depois, ele foi levado ao Hospital Dr. Ary Pinheiro onde passou por cirurgias para a reconstrução da perna. No entanto, um ano depois o membro continuava lesionado e então Eduardo decidiu amputá-lo. O médico que o acompanhava era contrário à decisão, mas o encaminhou a uma psicóloga para o início do processo de amputação. 

"Eu cheguei a certo ponto que não aguentava mais fazer o tratamento indicado, já não conseguia tomar tanto remédio forte. Já tinha pego três infecções na perna e já havia perdido 10 centímetros do osso. Então a minha recuperação seria mais difícil do que se eu fizesse a amputação", explica Eduardo.

Depois de alguns dias, Eduardo teve alta, e foi encaminhado para fisioterapia com sua prótese, começava então a sua adaptação a uma perna mecânica, que, segundo ele, foi até rápida. "Na verdade ainda estou me adaptando, mas em seis meses de fisioterapia já estava liberado, ficou no padrão que as fisioterapeutas indicam, apesar de quando eu estou em casa eu prefiro usar as muletas e a cadeira de rodas", disse Eduardo.

Conforme a fisioterapeuta de Eduardo, Rose Paiva, a adaptação foi boa graças a fisioterapia e a psicologia. "Sempre têm alguns contratempo em relação à adaptação da protetização, mas ele se adaptou bem. No início é normal o paciente se sentir pra baixo. Ele também viu que não era só ele que estava nessa situação. Esse apoio se deve a fisioterapia e a psicologia juntas”, explica Rose.

O DJ faz parte da estatística de acidentes provocados pela mistura de direção e bebida alcoólica. Eduardo é consciente que ele mesmo causou seu acidente. "Foi imprudência, porque quando você está alcoolizado você assume o risco de você machucar a si e ao próximo", admite o DJ.

Eduardo usa prótese após ter amputado sua perna
em 2015(Foto: Hosana Morais/Focas do Madeira)
Para Eduardo, a redução da mobilidade foi a sequela mais dolorida. "Hoje eu não consigo mais andar tanto como eu andava antes. E se tem uma escada eu tenho dificuldade. Mas, eu vou tocando a vida do jeito que posso", disse o DJ.

De tudo o que viveu após o acidente, Eduardo diz que aprendeu a valorizar as pequenas coisas. "Dá valor a vida a maior lição foi essa. Naquela situação você percebe o quanto é importante a sua vida para você e para os seus familiares. Sua mãe, seus irmãos tudo junto com você ali aquele momento", finalizou.

Eduardo recebeu o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) depois do acidente. E no início de 2016, passou a receber o auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (Inss).

De acordo com o Anuário de Estatísticas de Acidentes de Trânsito (Renaest), produzido pelo Departamento de Trânsito de Rondônia (Detran-RO),  no ano de 2014 foram registrados 12.684 acidentes em Rondônia. A 7° multa mais aplicada no estado foi dirigir alcoolizado ou sobre efeito de droga, segundo Renaest.

Operação Lei Seca é realizada em Porto Velho para diminuir acidentes de trânsito (Foto: Hosana Morais/Focas do Madeira )
Fiscalização
Conforme o comandante da Companhia Independe de Policiamento de Trânsito (Cia de Trânsito) da Polícia Militar, tenente-coronel Alexandre de Lima, operações são realizadas para diminuir o índice de acidentes em Porto Velho.

Existem diversas blitze, como a equipe Lei Seca, que atua na parte da tarde e noite, que tem como objetivo a diminuição da combinação direção e bebida alcoólica. Outra abordagem utilizada pela Cia de Transito é a Operação Cavalo de Aço, que fiscaliza os documentos do motociclista e do veículo. A cada blitz uma média de 35 motos são recolhidas pelos agentes de trânsito. "Temos uma blitz convencional que fiscaliza as infrações municipais de estacionamento, ultrapassar sinal fechado, entre outras infrações comuns", acrescentou De Lima.

Segundo o tenente coronel, a Operação Lei Seca é realizada em conjunto com o Departamento de Trânsito de Rondônia (Detran). São feitas por semana 11 blitze dos mais variados modelos.

Pauta e texto:Hosana Morais
Edição: Marcela Ximenes

Quase dois anos após acidente de trânsito em Porto Velho, sobrevivente vive os traumas da violência


Ivana Brito sofreu um acidente quando voltava de uma festa de aniversário com o  namorado. 

Ivana Brito estava na garupa da moto de seu namorado quando sofreu um acidente (Foto:Hosana Morais/Focas do Madeira)
 
Aos 20 anos, Ivana Magalhães carrega em sua perna marcas que vão acompanhá-la pelo resto da vida. A jovem estudante de enfermagem voltava de uma festa de aniversário com o namorado, quando um motociclista alcoolizado bateu na moto em que o casal estava. O acidente foi à 1h do dia 21 de setembro de 2014 na avenida Sete de Setembro, em Porto Velho.

Por sorte, um médico e duas enfermeiras ajudaram no socorro de Ivana que teve a perna esquerda fraturada com uma fratura exposta na batida. O motociclista embriagado acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A estudante foi levada ao Hospital de Pronto-Socorro João Paulo II e passou por uma cirurgia de emergência.

Ivana retirou o fixador externo após meses do
acidente (foto: Ivana Brito/Arquivo Pessoal)
A jovem afirma que a única ajuda que recebeu do homem que causou o acidente foi a chamada de socorro. “O cara veio antes das enfermeiras e do médico, o homem que bateu na gente chamou o Samu, foi à única coisa que ele fez pela gente mesmo. Chamar o Samu”, conta Ivana.

Após sete meses do acidente, Ivana iniciou a fisioterapia. Mas, mesmo após tirar o fixador externo que estava parafusado em sua perna, o osso não havia se recuperado da batida. Pouco depois, a jovem caiu e procurou atendimento hospitalar. "Voltei com meu médico e ele pediu pra operar, porque do jeito que estava corria o risco de quebrar o pouco que está já havia consertado", explicou Ivana

De acordo com a fisioterapeuta Roberta Pantoja, que cuida do caso da Ivana desde maio de 2015, a jovem melhorou o seu andar com os exercícios. "No começo foi difícil, ela não pisava, o osso dela não consolidava. Então a recuperação foi lenta e quando foi autorizado pelo médico a pisar no chão o osso não estava totalmente colocado. A fraqueza muscular da perna estava muito grande, ela mancava e sentia muita dor. Em novembro de 2015, ela fez a cirurgia para colocar a placa, nessa outra ela recuperou rápido até começar a andar", conta Roberta.

Conforme a fisioterapeuta, após o acidente Ivana anda de acordo com suas possibilidades. "Ela anda normal dentro da limitação dela, a paciente não está melhor, pois não vai assiduamente à fisioterapia", explica Roberta.

Mesmo carregando sequelas físicas de um acidente de trânsito, Ivana fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2014 e em junho de 2015 ela ganhou uma bolsa para estudar enfermagem em uma faculdade particular de Porto Velho. A estudante fez a prova utilizando o fixador externo parafusado a sua perna, mesmo assim ela conseguiu meia bolsa.

Apesar de começar a retomar a vida com a ajuda da fisioterapia, Ivana ainda não pode praticar esporte ou correr, pois sua perna ainda não está 100 % recuperada.
Meses após o acidente a jovem participou de uma audiência sobre o acidente, porém mesmo sem culpar o jovem que causou a batida, ela não conseguiu olhá-lo. “Eu passei do lado dele, mas eu não consegui olhar pro rosto dele. Eu já pesquisei ele no facebook vi tudo. Eu não acho que ele é culpado foi um acidente, mas eu acho que alguns podem ser evitados”, ressaltou Ivana.

Entretanto, após um ano e seis meses do acidente, Ivana ainda não consegue andar na garupa de uma motocicleta. "Eu nunca mais me imaginei em cima de uma moto, sempre andei como passageira", confessou a estudante. Embora a jovem ainda não tenha procurado uma ajuda psicológica, por muito tempo ela carregou consigo o medo das aproximações de motociclistas próximo ao veiculo que se encontrava.
Ivana faz fisioterapia desde maio
de 2015
(Foto: Ivana Brito/Arquivo Pessoal)

 "Depois que eu comecei a voltar a andar de carro assim que eu saí do hospital, sempre quando eu via uma moto muito perto do carro eu ficava com medo. Então no começo mesmo eu fiquei muito apreensiva sim, não saia na rua. Só que hoje em dia eu estou bem mais acostumada", conta Ivana.

Paula Poliana, irmã de Ivana, ficou assustada com a violência com que foi o acidente.  "Apesar de na época eu também andar de moto fiquei com medo dessa violência no trânsito. A falta de responsabilidade das pessoas transformar seu meio de transporte em uma arma. Tenho medo do trânsito em si", conta Paula.

Segundo o psicólogo Antônio Gurgel, é importante que uma vítima de acidente procure um especialista para saber se desenvolveu o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Tept). “É
extremamente aconselhável que se procure um psicólogo após alguma qualquer situação desse tipo, independente da instauração de um transtorno ou não", explica Gurgel.

Conforme o psicólogo, uma pessoa pode desenvolver o Tept se houver refletidas lembranças do sinistro vivido. "A ligação com o evento tem que ser muito clara, a pessoa geralmente se recorda desse evento repetidamente. Mas, é comum também, um dos mecanismos de defesa que se tem conhecimento é o próprio recalque, a negação", esclarece Gurgel.  

Por fim, o psicólogo acredita que mesmo que uma vítima de acidente não desenvolva o Tept, a experiência traumática pode influenciá-la.