sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Escola de Música Jorge Andrade insere pessoas maiores de 50 anos no mundo das partituras

Aos 26 anos de existência, escola de música agora possui classe da melhor idade

Manoel Sobrinho, aluno do projeto (Foto: Mary Stephany/Focas do Madeira)

A Escola Municipal Jorge Andrade, em Porto Velho, quebrou paradigmas e criou uma nova classe, a classe denominada Canto da Idade. Segundo a diretora Dulciléia Borges, o projeto nasceu após a percepção da grande procura de pessoas com mais de 50 anos para fazer aula de música. “A música é muito importante para todas as idades, mas para os mais experientes, serve como aprendizado e um novo jeito de ocupar o tempo”, afirma a diretora. 

A escola utiliza sorteios como método de seleção de alunos. Durante o dia, estudam alunos de 8 a 17 anos. O horário da noite é reservado aos alunos que possuem maior idade. Os idosos interessados procuravam se inscrever, e se sorteados, iniciavam as aulas. Porém, durante o ano letivo, os mais velhos não conseguiam acompanhar as aulas porque a metodologia não era adequada para a idade. “Então desenvolvemos o projeto, com professores adequados e com didáticas adaptadas para a idade dos alunos. Assim como as crianças possuem um ensino diferenciado dos adultos, os idosos merecem uma atenção especial”, avalia Dulciléia Borges.

Em 2014, deu-se início à primeira turma do projeto Canto da Idade, com mais de 30 alunos em sala de aula. No decorrer do ano, houve poucas desistências. Os alunos aprenderam a base da música, e não apenas as famosas sete notas musicais (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si). A professora Raquel Cabral diz que a experiência valeu a pena. 

"Assim como as crianças possuem um ensino diferenciado dos adultos, os idosos merecem uma atenção especial” - Dulciléia Borges

Diferente de uma criança ou um adolescente, o adulto sabe o que quer, e a maturidade de quem possui a melhor idade o ajuda a persistir e alcançar a meta. “Para eles é uma questão de conquista. Alguns chegaram acreditando que não conseguiam e se surpreenderam ao ver que conseguiram concluir todo o ano letivo“, afirma a professora.

Manoel Alves Sobrinho, de 72 anos, participou do projeto e concluiu a etapa de musicalização. “Para mim foi de grande importância, visto que aprendemos a parte inicial e básica da música. A escola é muito importante para o município e para a sociedade, nós é que não aproveitamos a escola como devemos”, comenta o aluno. Manoel conta que, durante o período letivo, se reunia com os amigos de turma no mínimo duas vezes por semana para treinar e relembrar o que foi passado em sala de aula. Em sua apresentação com a turma, tocou na flauta doce canções natalinas e cantigas.

No último mês de novembro, os alunos fizeram uma apresentação no auditório da escola, onde mostraram aos amigos e familiares o que aprenderam na teoria e na prática. A alfabetização musical proporcionou para os alunos do projeto o estímulo à vida e a criatividade, pois, ao invés de ficarem ociosos, estarão nas horas vagas treinando flauta doce ou revendo a partitura para não esquecer o que foi passado em aula. Fizeram novas amizades, criando um novo círculo de convivência.


Em novembro, alunos se apresentaram para familiares e convidados (Foto: Escola de Música Jorge Andrade)

História da escola
A Escola Municipal Jorge Andrade foi inaugurada no dia 1 de janeiro de 1988 pelo prefeito Tomás Correia. Mas o movimento para a criação da escola iniciou anos antes. Na época, o professor e músico Sebastião Araújo Alves das Graças começou a dar aula para um grupo de aproximadamente 20 adolescentes no antigo Teatro Municipal. Em seguida, as aulas mudaram para a biblioteca Dr. José Pontes Pinto (na avenida Farquhar). Com o aumento dos alunos, a prefeitura alugou uma casa no início da avenida Abunã, neste local, surgiu a ideia de montar uma Orquestra Municipal.

Aprovando o novo projeto, o prefeito Tomás Correia construiu a atual escola de música, com o objetivo de que, os alunos que ali estudassem, formassem a sonhada orquestra. Seis meses antes da inauguração, os alunos que possuíam a maior idade foram contratados como instrutores da nova escola. De 20 alunos, seis foram contratados.

Como a ideia era nova e não foi divulgada, no primeiro ano não teve procura. Porém, do segundo ano em diante, a procura foi aumentando cada vez mais, satisfazendo os idealizadores. Com o tempo, o projeto inicial foi deixado de lado, e a escola se tornou mais adepta de instrumentos populares. Os instrumentos da orquestra, além de serem mais caros, possuíam pouca procura, proporcionando aos poucos a mudança.

Paulo César Cardoso atua como professor na escola desde o ano de fundação, e afirma que a realidade é muito diferente do início. Até hoje, Porto Velho não possui uma orquestra. “O município perde em questão de cultura. Os instrumentos populares são bons e têm suas vantagens, mas uma orquestra melhora o nível cultural. Um exemplo é que não se vê violência em um concerto”, afirma o professor mais antigo.

Hoje, a escola é dirigida por Dulciléia Borges, oferece aula nos períodos da manhã, tarde e noite; e instrumentos para o aprendizado na escola, mas orienta o aluno a ter o mesmo em casa para treinar. Os alunos aprendem teoria musical e prática de teclado, piano clássico, violão, bateria, violino, flauta transversal, guitarra, contrabaixo, saxofone e técnica vocal.

Para ingressar como professor é necessário esperar o edital do concurso municipal. Para ser aluno, todos os anos, ao final do período letivo, deve-se dirigir à escola e colocar o nome para sorteio, se for contemplado, efetua a matrícula na semana seguinte.  Boa sorte!

Pauta e texto: Mary Stephany Porfiro (6° Período)
Edição: Marcela Ximenes

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